Naquela Terra onde meu pai nasceu
Meu pai disse-me um dia:
-Filho, eu não sou daqui.
Não sou desta cidade doirada e ruidosa.
No seio do Alentejo, aí é que eu nasci!
Numa aldeia branquinha, em rua pedregosa.
Eu tinha a tua idade quando de lá parti;
Poucas vezes depois tornei a vê-la,
Fui suportando o peso da saudade,
Os anos não bastaram para poder esquecê-la.
Meu pai morreu. Um dia, senti forte vontade
De ver esse torrão.
Deixei ficar os brilhos da cidade
Fui com o vento, levei o coração.
E ali, aonde o sol é mais ardente,
E as casas são pintadas de cal branca,
Onde o vento Suão enegra a gente,
Gente que é sã, hospitaleira e franca.
Ali, nas ruas tortas, pedregosas,
Cheirando a pão cozido e a primavera,
Vi as mulheres de caras curiosas,
Perguntando umas a outras quem eu era!
Eu vi da velha tradição moirama,
Os xailes negros das gentes camponesas.
Ouvi ranchos cantar à alentejana,
Vi a açorda a fumegar nas mesas.
Vi nos casões os ninhos de andorinha,
E nos telhados a saltitar pardais.
Ouvi os sinos tocar pela tardinha,
Quando os rebanhos recolhem aos currais.
Eu vi os campos verdes, cheios de trigo,
E as quietas oliveiras em botão.
Eu vi em cada homem um amigo,
Senti que cada amigo era um irmão.
E ali, donde meu pai tinha partido,
Eu vi em tudo um pouco que era meu,
Como se tivesse também ali nascido
Naquela terra onde meu pai nasceu.
In
A malhar em ferro quente
Romão M. Mariano
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
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Um maravilhoso poema. Um retrato.
ResponderEliminar..Saudades, saudades da minha aldeia.
ResponderEliminar...lendo o poema do 'Primo' Romão, fico de olhos alagados, e doe-me o coração de saudades...
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